editorial

                     Expectativa frustrada

 

Infelizmente a política falou mais alto do que a saúde e bateu de frente com o insistente lema do governador João Doria Jr. que “inventou” o tal Plano São Paulo com base na ciência e na saúde. Ele mesmo deu o chamado “pulo do gato” quando a Anvisa aprovou a fabricação da vacina chinesa CoronaVac em parceria com o Instituto Butantan. Doria furou o antigo Plano Estadual de Imunização que marcava o início da vacinação no estado para 25 de janeiro (aniversário da capital paulista) e antecipou para o dia 17 em verdadeiro espetáculo político na tentativa de ser chamado de “pai da vacina”. Tudo em nome da campanha eleitoral já visando a eleição do ano que vem para presidente da República.


João Doria quebrou a cara! Acabou a vacina e o Instituto Butatan não consegue a produção desejada por falta de matéria-prima, que está vindo “a conta-gotas” da China.


Ontem o governo anunciou o início da imunização da faixa entre 80 e 84 anos apenas para o dia 1º de março. Esta é a data que, segundo o antigo PEI (Plano Estadual de Imunização), idosos acima de 75 anos já estariam tomando a segunda dose. O motivo do atraso? A falta de vacinas, justifica o governo estadual, que, em janeiro, aderiu ao PNI (Plano Nacional de Imunização). Até agora, foram distribuídas quase 12 milhões de doses pelo país — o bastante para imunizar apenas 6 milhões de pessoas, menos de 3% da população brasileira.


“Quando estipulamos 85 anos ou mais, é a população que podemos vacinar neste momento com quantitativos que temos. Sabemos qual é a população com 60 anos ou mais, é em torno de 7 milhões. Precisamos de mais vacinas para colocar para os municípios fazerem vacinação”, declarou Regiane de Paula, coordenadora do Controle de Doenças da Secretaria da Saúde de SP.

Na verdade, o governo paulista está em verdadeira “saia justa” com a falta de vacinas, pagando um preço alto pela euforia do governador João Doria Jr. que se adiantou no processo de vacinação. Em vez de exaltação e elogios, Doria tem sofrido críticas contundentes.


O pior de tudo é que ele foi o responsável por criar a expectativa de vacinação na população, tanto que já tinha anunciado que todo o estado estaria imune no primeiro semestre. Agora, a previsão é, com muito otimismo, o final do ano. E ainda tem mais um sério problema: a minoria que já recebeu a vacina precisa tomar a segunda dose e não se tem tanta certeza de que todos receberão em tempo hábil. "Marcamos as datas de acordo com a quantidade de vacinas. Não tem vacina. Se conseguirmos, iremos adiantar, como temos feito, mas tudo depende da quantidade de vacina disponível", disse o secretário estadual da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn.


Ao todo, foram distribuídas no Brasil quase 12 milhões de doses das duas vacinas aprovadas: a CoronaVac e a Oxford/AstraZeneca. Até a semana passada, o Butantan havia liberado para o país 9,8 milhões de doses em três remessas e o Ministério da Saúde distribuiu 2 milhões de doses do imunizante de Oxford/AstraZeneca no fim de janeiro. Ainda é muito pouco para o tamanho do carnaval da vacina protagonizado pelo governador João Doria Jr.


A situação só tende a melhorar quando a Anvisa tiver aprovado outras vacinas que já pediram autorização, como a Gamaleya e do Bharat Biotech (Índia), a Sputnik V (Rússia) e Pfizer, que pediu registro da "Cominarty", produzida em parceria com a BioNTech.